Correspondência Poética: Poema

quarta-feira, 2 de março de 2011

Poema

Cotidiano


Cotidiano, começa o dia,


Maria e Zé levantam às 5


Pois é, com fé


Tomam um café, 2 vezes passado,


pra aproveita o pó, né


Molha o pão de antes de ontem


Amolecido fica, como é o coração


Pai nosso, ave Maria


A reza de cada dia


Meu pai ilumine mais uma batalha da vida


Um novo dia, mais uma correria


Beijo nas crianças, a mais velha tá na responsa


O ponto tá daquele jeito


O campo tá minado


Paga conta, pega fila


Ônibus lotado, imagine o trem


Lotação também


É o vai e o vem


Atravessando a ponte, observo meus irmãos apertados


Muitos angustiados, eu tomei meu café


E o guerreiro ao meu lado


Uns vem em pé, outros sentados


Da janela que estou, vejo um carro importado


Uma madame, com um poodle, com um latido bem chato


Deve estar indo ao shopping, é claro


O marido deve ser empresário, ou deputado


Um senhor acende uma bituca de cigarro


O moleque, no farol, ganha seu trocado


A prostituta faz seu ponto, não é nada fácil


Na quebrada, ta moiado


Os polícia colaram e saíram com o camburão estrumbado


Só trabalhador, senhor, leva que é pra cumprir o mandato


Dei sorte hoje, amanhã pode tá embaçado


É época de eleição, qué fazê bonito


Pros bacana, pra ser o próximo candidato


Qué limpa a cidade, devia começa pelo outro lado


É Lá que ficam os safados, colarinho engomado


Lixo tóxico que explora o busão lotado


Estou à margem, mais eles que são os marginalizados


Eu, eu sou um simples trabalhado, ganho o meu suado


Observando da janela do busão lotado


Apenas sonho para que esse lixo todo seja mudado


E os meus filhos não precisem molhar o pão no café fraco


Quero ser livre, sentir a leve brisa do meu barraco


E não me sentir um escravo, sendo maltratado por capitães do mato


Que enquadram, matam e são engravatados.


Observo tudo da janela do busão lotado e apertado


É mais um dia de trabalho.


(Zinho Trindade)

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